O
fim de semana estava sendo ótimo... A única maneira que Melissa enxergava para
aquilo melhorar seria ele não ter fim.
Mas
como as semanas são cruéis e não tem qualquer consideração com a paixão alheia,
as segundas-feiras sempre sucedem aos domingos e, sim, aquela felicidade
acabaria. E acabaria em poucas horas...
Melissa
e Luciano eram aquele tipo de casal que talvez nunca fosse mesmo se encontrar
sem que o destino armasse das suas peripécias... Aquelas pessoas improváveis
até de se encontrarem em algum lugar comum. Não havia lugar comum. Não havia
amigos em comum. Os interesses em comum só foram sendo descobertos aos
poucos...
Mas
eram um casal divertido. Faziam-se bem. Contavam um ao outro como foi o dia,
davam apoio em dias ruins, davam risadas nos dias bons. Sabiam o que o outro
estava pensando ou sentindo. Arriscaria dizer que eram capazes de completar as
frases iniciadas pelo outro... E se completassem errado, ninguém saberia, pois
dariam risada e aceitariam a brincadeira.
Mas
Melissa e Luciano eram mesmo um casal improvável... Moravam há mais de 12 horas
um do outro... Mais de 900 km separavam o casal improvável, mas que tinha tudo
para dar certo... Aliás, deram certo graças à tecnologia! Não há, no mundo, distância
que separe quem seja o feliz proprietário de um smartphone, afinal de contas.
E
Melissa já não acreditava em Príncipe Encantado e em Felizes para Sempre...
Também não acreditava que ser a Princesa no alto da torre esperando o príncipe
que a escolhesse fosse uma opção... Aliás, nunca acreditou nisso...
Mas
também não se sentia confortável em deixar a situação ir se arrastando sem saber
quem eles eram, afinal de contas... Melissa pensou em como os rótulos são
negativos, mas também em como são necessários... Não é que as coisas não
estivessem caminhando bem, estavam! O fim de semana maravilhoso mostrava isso o
tempo todo... O sexo era perfeito! O encaixe, maravilhoso! Dormir naqueles
braços dava uma segurança e uma tranquilidade que Melissa poucas vezes tinha
sentido... Apesar de toda a improbabilidade... Mas ela realmente queria mais...
Estranhamente, Melissa ansiava por um rótulo! Não um rótulo para chamar de seu,
mas um rótulo para chamar o outro! Melissa queria dar “bom dia, namorado!”, “bom
trabalho, namorado!”, queria contar os dias, os meses, fazer aniversário...
Melissa queria continuar sendo boba, mas com o mundo sabendo que toda sua
bobagem tinha nome: Luciano!
Com
a segunda-feira cruelmente se aproximando, Melissa, com o estômago dando voltas
e uma certa tontura, sintomas creditados ao nervosismo que a situação impunha, fez
a pergunta crucial... Aquela pergunta que ela não tinha feito a mais ninguém
antes... Não seria idiota de perguntar isso a alguém... Mas foi! E perguntou...
“Quer
namorar comigo?”
Faltou
ar, o coração disparou, queria engolir a pergunta tão improvavelmente jogada...
Antes
que conseguisse pedir para que a pergunta fosse ignorada, por mais rápido que
tenha pensado, a resposta veio...
“Querer
eu quero, amor... Mas...”
MAS...
MAS... MAS...
O
que veio depois Melissa não foi capaz de registrar...
O
MAS foi suficiente pra fazer seu cérebro parar...
O
que Melissa sentia não podia ser interrompido por uma conjunção qualquer...
MAS...
Pior!
Uma conjunção adversativa...
MAS...
Sim...
Lá estava ela: MAS, PORÉM, CONTUDO, ENTRETANTO, NÃO OBSTANTE, TODAVIA...
Melissa
aprendeu nas aulas de Português o que todas elas significavam... Mas não
aprendeu o poder da conjunção adversativa de partir em dois um coração
apaixonado...
Aprendeu
ali... A fórceps...
E
desejou que a segunda-feira viesse...
E
ela veio... Pois como as semanas são cruéis e não tem qualquer consideração com
a paixão alheia, as segundas-feiras sempre sucedem aos domingos...
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