Então é Natal...

Paizinho querido...

Estou te escrevendo no pior Natal da minha vida...

Já se passaram 6 anos desde que você se foi e sempre foi uma data difícil, mas nunca senti tanto sua falta como hoje...

Tem tanta coisa diferente...

Muita coisa mudou para melhor, mas tanta coisa ruim...

Como eu precisava do seu abraço, dos seus tapinhas na cabeça, dos seus beijos na minha testa, de te ver me esperando chegar em casa deitado na rede da varanda... Aquilo me dava a certeza de que eu não estava sozinha... Que o mundo podia desabar porque eu tinha uma segurança ao voltar para casa...

Agora o mundo desaba... E não tenho para onde correr... Não tenho quem abraçar para lembrar que ninguém vai me fazer mal...

E como as pessoas têm me feito mal, paizinho...

Nisso você estava errado... Eu não fiquei bem depois que você morreu...

Você se foi muito cedo... Não sei ser sozinha... Não sei não ter quem fale que “já basta! Isso não vai mais acontecer...”

Tenho dois filhos lindos! Mas tenho tanto medo do mundo que eles vão encontrar...

Cresci ouvindo que “O Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida”, mas como tem gente sem honra no meu caminho... Como tem gente sem palavra... Como tem gente que não tem o menor pudor em mentir, manipular, para conseguir o que quer... Que passa por cima dos outros como se não houvesse amanhã...

Você sempre me disse que cada um é responsável por seus atos... E que, haja o que houver, a gente tem que consertar o que quebrou... Hoje isso vale para tão pouca gente...

Acho que algumas pessoas nunca vão assumir as consequências de seus atos e isso abala tanto minha fé na Justiça...

É Natal e não tenho vontade de ver aquele menino pequenininho na Manjedoura porque não tenho mais aquela esperança de que as pessoas passarão a ser boas e a sexta-feira santa não irá acontecer...

Estou tão doída... Tão despedaçada...

Com que direito as pessoas matam o Menino Jesus que há dentro da gente?! Com que direito as pessoas fazem a gente parar de acreditar nas pessoas?! Com que direito fazem a gente duvidar que Deus seja justo?!

Você me diria agora que as pessoas não tem esse direito... Secaria minha lágrimas e me daria a mão para ajudar a me reerguer... Você que nunca deixou de acreditar nas pessoas... Que nunca deixou de ver o lado bom até em quem só fazia o mal... Que nunca desistiu...

Mas você não está mais aqui...

E eu estou ainda mais sozinha...

Sem forças para juntar meus caquinhos...

Sem forças sequer para gritar que não vou mais permitir que façam isso comigo...

E sigo permitindo...

Mas você estava muito certo em tantas outras coisas também...

Minha mãe realmente podia ser minha maior parceira... Pena termos demorado tanto a aceitar isso...

Valorizar os amigos sinceros e verdadeiros é o maior tesouro que podemos cultivar...

Amigos são a família que a gente escolhe... E como é acalentador poder tê-los perto...

Os irmãos são aqueles com quem sempre poderemos contar, e com o tempo, qualquer diferença desaparece e seremos todos uma unidade...

Hoje posso ver em cada um dos meus irmãos queridos tanto de você, pai... Você fez um excelente trabalho...

Mas agora é hora de seguir em frente...

Fazer pipoca para um rapazinho de 4 anos que se parece muito com você... Vocês se dariam muito bem...

Saudades eternas...